Na vida de quem desenha existem problemas diferentes que pessoas normais não entendem, como por exemplo o medo de estragar um desenho pintando errado. Quem nunca deixou um desenho em preto e branco com receio de colorir e se arrepender? A pessoa que consegue passar o nanquim já é bem corajosa, né? rs
Antes de ter uma mesa de luz, ou os outros recursos digitais que tenho agora, ficava com medo de perder um desenho e acabava não evoluindo as etapas dele. Claro que existem excelentes técnicas de desenho finalizado somente à lápis, ou à nanquim, etc, mas não podemos usar técnica como desculpa para não transpor barreiras.
Pensando nisso, resolvi fazer um cappuccino com três dicas de como tornar esse processo de "desbloqueio" mais fácil. Tá tudo detalhado, o post vai ser gigante, mas espero que goste.
1. Leia sobre teoria da cor
Há um bom tempo, um camarada chamado
Isaac Newton, conhecido pela história da maçã e gravidade, descobriu que um prisma era capaz de dividir a luz em um espectro de cores. Pensou que foi Pink Floyd com a capa de
dark side of the moon? Não. Foi Isaac Newton mesmo. Sabe como é, né... Na época não tinha Netflix nem Facebook, então as pessoas acabavam fazendo esse tipo de coisa pra passar o tempo.
Voltando ao que interessa, essas cores são as cores do arco-íris, e Newton as organizou em um disco, na seguinte ordem: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Esse experimento originou o disco cromático que usamos em artes, porém, o de Newton fragmenta a luz branca em cores, e o outro disco estuda a mistura das cores pigmento (magenta, amarelo e ciano - também conhecidas como cores primárias) para obter as cores derivadas.
Fiz esse disco cromático para melhor entendimento do que seriam essas misturas de cores.
Cores secundárias são as cores obtidas nas misturas entre as
cores primárias. As
cores terciárias, por sua vez, são obtidas entre as misturas de primárias com secundárias.
Agora, vou apresentar o esquema de relação entre as cores desse disco. Existem dois tipos principais de relações entre as cores: analogia e complementariedade.
Cores análogas são aquelas que possuem estrutura parecida em relação à composição, ou seja, uma série de cores que possuem uma cor base em comum. Um jeito mais fácil de entender é olhando o disco. As cores "vizinhas" são sempre análogas, harmônicas entre si.
Já as
cores complementares são aquelas opostas no disco cromático. Isso quer dizer que é uma cor formada por duas cores primárias, menos a cor que compõe a sua oposta. Bagunçou... Vou dar exemplo: roxo é complementar do amarelo, ou seja, a mistura que se tem para obter a cor roxa leva todas as cores primárias, menos amarelo.
Para explodir a cabeça agora, heim: existem ainda as
cores semi complementares, que são as cores análogas da cor oposta. A cor complementar de roxo é amarelo; laranja, que é análoga de amarelo, é uma cor semi complementar de roxo. Entendeu? O uso de semi complementares possibilita contrastes mais suaves em uma composição.
E por último, não menos importante, a relação entre
temperatura. "A máxima prevista para o azul nesta tarde é de 20°C com mínima de 15°C" Nããããoooo.... Não é isso! As cores podem ser classificadas entre
cores quentes e
cores frias.
A classificação entre quente e frio vem lá da Física, com o comprimento de onda das cores. Quanto maior, mais quente, e quanto mais curto, mais frio. Dúvida? Pensa nos dois cenários: um deserto de areia e montanhas nevadas - qual é quente e qual é frio? Qual a paleta de cores de cada um?
Observe estas imagens do
concept art do filme O Rei Leão:
Do artbook - The Art of the Lion King
Na imagem da esquerda, as cores complementares foram usadas para destacar figura e fundo de uma cena alegre, em que as cores análogas e quentes dão ênfase a um momento feliz e divertido do filme. Na imagem da direita, uma paleta com cores análogas e frias foi usada para deixar o cenário do cemitério de elefantes sombrio e assustador.
Com base nesses conhecimentos sobre cores, você pode montar a sua própria paleta para colorir seus desenhos. Pense na sensação que quer passar, pense nas características do seu personagem... o que nos leva a dica número dois.
2. Faça cartelas de cores
Que materiais você tem em casa para colorir? Não importa se é tinta, canetinha, lápis de cor, todo material de pintura tem o mesmo valor e peso quando sabemos explorar as possibilidades. O primeiro passo é preparar uma cartela de cor para consultas.
Nem sempre a cor que vemos no bastão de lápis ou na tampa da canetinha corresponde exatamente a cor do pigmento que é deixado no papel. Para isso, é importante fazer um guia com nome e amostra de todas as cores que você tem.
Construir e consultar a cartela de cor faz com que a gente saiba exatamente como o material vai se comportar no papel e quais misturas precisamos fazer pra chegar a uma determinada cor ou algum efeito. O risco de fazer
cagada besteira é bem menor.
3. Tente desapegar
Terceira e última dica é desapegar. Se você teve competência para fazer um desenho maneiro, com certeza vai ter competência para refazer. Falo por experiência própria que refazer uma criação ou replicar é sempre mais rápido do que criar do zero.
Não tenha medo de errar, pois aprendemos com os erros também. Faça desenhos menos importantes para poder praticar uma técnica nova. Ou ainda, compre um daqueles livros de colorir (ou aquele volume repetido de mangá que você comprou jurando que ainda não tinha). A cada página experimente uma técnica nova, combinações de cores, combinações de materiais... e ao final, você vai ter um livrinho cheio de referências do que fazer, e também do que não fazer.
Olha quanta coisa disponível no mercado!
E aí, gostou? Se você tiver mais dicas, dúvidas, ou quiser contar sua experiência no assunto, deixe um comentário, por favor. Ajudará bastante. =D
Nos vemos no próximo post. Até logo! o/